sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
Outros futebóis
Desde 2010 que tenho uma relação de amor/ódio com o futebol.
Nesse ano ouvi um adepto do meu clube dizer, com o filho pequeno pela mão, que podia ir preso mas que nesse dia ia matar um adepto do Atlético devido aos confrontos que tinham acontecido em Madrid na primeira mão.
Nunca foi este o meu futebol.
Sou sócia do Sporting desde 1982 e cedo comecei a ir ver treinos e jogos, de mão dada com o meu avô, que nas manhãs de fim-de-semana gostava de ir ver as equipas mais novas e as equipas femininas.
Fiz trezentos quilómetros com uma directa em cima para ver o jogo de abertura do Europeu em 2004, estive cento e cinco minutos debaixo de chuva intensa a ver um amigável Portugal-Brasil (primeiro jogo do Deco pela nossa selecção), chorei em Alvalade nos 1-3 com o CSKA sem dizer asneiras porque tinha o meu tio ao lado, vi o último jogo no estádio antigo. Já fui à Luz, às Antas, ao Braga e ao Algarve.
Mas naquele dia, em 2010, disse para mim mesma que não podia gostar de um desporto que leva as pessoas a tamanha violência, que afasta amigos e que move um país sem olhar a meios. Principalmente financeiros.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
Liga de Melhoramentos de Carvalho
Ontem fez 74 anos a Liga de Melhoramentos da aldeia mais bonita do Mundo. E por conversas sobre o tema, dizia eu ontem, que me faz confusão quando algum amigo de Lisboa diz que não tem terra. 'Os meus pais são de Lisboa, os meus avós são de Lisboa..'
Que raio é ter uma infância sem terra?
E os banhos no poço, os pic-nics com os primos, dançar o vira, enrolar rifas até nos doer os dedos, o medo da Galinha, fumar o primeiro cigarro, andar quatro quilómetros à noite para beber café no Carvoeiro e depois mais quatro para voltar, dançar o vira outra vez, cantar pela aldeia na Páscoa com a boca a transbordar de amêndoas, servir cem cafés em cinco minutos no bar depois do almoço da festa, ver os tios e os avôs a torrarem a nota no leilão e as tias e as avós a ficarem fulas, pedir um fado, ver a piscina pela primeira vez, ir à Vila ligar aos pais porque em Carvalho não havia telefones, comprar autocolantes dos Bombeiros, vender autocolantes de Carvalho, ser enfiada na piscina toda vestida, leiloar tufos do cabelo do Gustavo (rapado ao vivo!), e mais outro vira, enfiar os pés na ribeira gelada, ir sentada na bicicleta dos mais velhos que pedalavam até Pessegueiro, tomar banho na fonte da eira fundeira, passar a placa da aldeia dois metros e ficar ali o serão só para transgredir a regra que nos impedia de sair da aldeia e, no fim do verão, as pernas forradas a pensos rápidos?
Coitados.. não tiveram infância..
Que raio é ter uma infância sem terra?
E os banhos no poço, os pic-nics com os primos, dançar o vira, enrolar rifas até nos doer os dedos, o medo da Galinha, fumar o primeiro cigarro, andar quatro quilómetros à noite para beber café no Carvoeiro e depois mais quatro para voltar, dançar o vira outra vez, cantar pela aldeia na Páscoa com a boca a transbordar de amêndoas, servir cem cafés em cinco minutos no bar depois do almoço da festa, ver os tios e os avôs a torrarem a nota no leilão e as tias e as avós a ficarem fulas, pedir um fado, ver a piscina pela primeira vez, ir à Vila ligar aos pais porque em Carvalho não havia telefones, comprar autocolantes dos Bombeiros, vender autocolantes de Carvalho, ser enfiada na piscina toda vestida, leiloar tufos do cabelo do Gustavo (rapado ao vivo!), e mais outro vira, enfiar os pés na ribeira gelada, ir sentada na bicicleta dos mais velhos que pedalavam até Pessegueiro, tomar banho na fonte da eira fundeira, passar a placa da aldeia dois metros e ficar ali o serão só para transgredir a regra que nos impedia de sair da aldeia e, no fim do verão, as pernas forradas a pensos rápidos?
Coitados.. não tiveram infância..
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
Dar sangue não é nada nice..
Ontem perguntaram-me: como é que a Maria Desmaios aguenta?
Ora pois.. a primeira vez que dei sangue, em 2002 no Curry Cabral, não foi nada simpático. A minha curiosidade parva fez-me tirar os olhos da televisão e olhar para o saco do sangue. Tudo porque estava a ouvir um toc toc e tinha a certeza que era de alguma coisa que me estava ligada às veias. Tinha razão. Olhei para o raio do saco, que estava a dançar numa espécie de balança e a fazer o toc toc. Felizmente passou uma enfermeira, olhou para o meu melhor ar transparente e arrancou-me aquilo tudo do braço. Quando dei por mim estava numa salinha a comer a sandes de presunto que melhor me soube em toda a vida. A partir desse dia, quando ia dar sangue, mais ou menos de quatro em quatro meses, não tirava os olhos da televisão, não falava com ninguém, não mexia no telefone, só respirava. Eram só uns dez minutinhos e sabia que a seguir ia ter uma heroína sandes de presunto que me reporia toda a energia.
Mais tarde veio o IPO. Por motivos óbvios alguém me convenceu em 2009 a passar as dádivas para lá com a promessa de que era possível entrar no edifício e chegar à sala de dadores sem ver pessoas doentes. Porque para isso é preciso mais coragem, mais estômago, muito mais pressão arterial e rolhas nos olhos. Eu nem sequer choro com as voluntárias que vão à sala tocar e cantar, imaginem com doentes..
Em 2012, enquanto preenchia o velho questionário que queria saber se o nosso sangue era gay, vi um cartaz a explicar as dádivas por aférese. "Esta técnica especial permite que o seu sangue seja retirado através de um braço e passe por uma centrífuga especial através de uma sistema de tubos esterilizados. Uma parte das suas plaquetas, ou uma combinação de plaquetas e outro componente, são removidas, enquanto os restantes componentes do seu sangue lhe são devolvidos através do mesmo braço. Este processo dura entre 45 a 90 minutos."
Para além de uma dádiva desta natureza equivaler a seis dádivas normais, pode ser feita de dois em dois meses (nas normais as mulheres só podem doar de quatro e quatro meses).
Como estava acompanhada por uma Santa Amiga Enfermeira (que só foi dar apoio moral porque não tem 50kg e não pode doar sangue) enchi-me de coragem e lá fui.
Fizeram umas análises e constataram que tinha bons acessos e muito bons valores. Conclusão, podia fazer uma dádiva dupla! Estava no segundo andar, que da janela cá para baixo equivale a um quarto e já estava ligada à máquina, por isso não tive grande alternativa.
Foi bom? Não! E agora já é? Nada!
Nunca estou menos de 75 minutos a ver o sangue a sair (altura de apertar a bola), andar às voltas na maquineta, e voltar a entrar cá para dentro. Tenho sempre de tomar cálcio porque fico com a boca e os pés dormentes e café porque a pressão arterial desce (ontem foi aos 90/35), e no fim pareço um espantalho porque 75 minutos de corpo hirto e a agulha das farturas enfiada no braço não dão a ninguém um andar sexy.
Enfim, imagino-me em Monkey Bay, Malásia, a beber água de côco ou caipirinhas. E se me perguntam se é preciso coragem eu respondo que sim, mas também já saltei de avião duas vezes, já fiz duas ou três endoscopias sem anestesia e até já fiz snorkeling na tal da Monkey Bay, que felizmente só durou trinta segundos até decidir que estava muito melhor na toalha a ler.
Não é bom mas vale a pena! E, tanto quanto sei, não sou nada persuasiva.. já falei da dádiva de aférese milhentas vezes com diversas pessoas e nunca consegui convencer ninguém a ir comigo.
É mais fácil fazer partilhas no facebook de crianças carecas e pedir aos outros para se inscreverem como dadores de medula, ou a fazerem likes. Ou a escrever um Amén.
Ora pois.. a primeira vez que dei sangue, em 2002 no Curry Cabral, não foi nada simpático. A minha curiosidade parva fez-me tirar os olhos da televisão e olhar para o saco do sangue. Tudo porque estava a ouvir um toc toc e tinha a certeza que era de alguma coisa que me estava ligada às veias. Tinha razão. Olhei para o raio do saco, que estava a dançar numa espécie de balança e a fazer o toc toc. Felizmente passou uma enfermeira, olhou para o meu melhor ar transparente e arrancou-me aquilo tudo do braço. Quando dei por mim estava numa salinha a comer a sandes de presunto que melhor me soube em toda a vida. A partir desse dia, quando ia dar sangue, mais ou menos de quatro em quatro meses, não tirava os olhos da televisão, não falava com ninguém, não mexia no telefone, só respirava. Eram só uns dez minutinhos e sabia que a seguir ia ter uma heroína sandes de presunto que me reporia toda a energia.
Mais tarde veio o IPO. Por motivos óbvios alguém me convenceu em 2009 a passar as dádivas para lá com a promessa de que era possível entrar no edifício e chegar à sala de dadores sem ver pessoas doentes. Porque para isso é preciso mais coragem, mais estômago, muito mais pressão arterial e rolhas nos olhos. Eu nem sequer choro com as voluntárias que vão à sala tocar e cantar, imaginem com doentes..
Em 2012, enquanto preenchia o velho questionário que queria saber se o nosso sangue era gay, vi um cartaz a explicar as dádivas por aférese. "Esta técnica especial permite que o seu sangue seja retirado através de um braço e passe por uma centrífuga especial através de uma sistema de tubos esterilizados. Uma parte das suas plaquetas, ou uma combinação de plaquetas e outro componente, são removidas, enquanto os restantes componentes do seu sangue lhe são devolvidos através do mesmo braço. Este processo dura entre 45 a 90 minutos."
Para além de uma dádiva desta natureza equivaler a seis dádivas normais, pode ser feita de dois em dois meses (nas normais as mulheres só podem doar de quatro e quatro meses).
Como estava acompanhada por uma Santa Amiga Enfermeira (que só foi dar apoio moral porque não tem 50kg e não pode doar sangue) enchi-me de coragem e lá fui.
Fizeram umas análises e constataram que tinha bons acessos e muito bons valores. Conclusão, podia fazer uma dádiva dupla! Estava no segundo andar, que da janela cá para baixo equivale a um quarto e já estava ligada à máquina, por isso não tive grande alternativa.
Foi bom? Não! E agora já é? Nada!
Nunca estou menos de 75 minutos a ver o sangue a sair (altura de apertar a bola), andar às voltas na maquineta, e voltar a entrar cá para dentro. Tenho sempre de tomar cálcio porque fico com a boca e os pés dormentes e café porque a pressão arterial desce (ontem foi aos 90/35), e no fim pareço um espantalho porque 75 minutos de corpo hirto e a agulha das farturas enfiada no braço não dão a ninguém um andar sexy.
Enfim, imagino-me em Monkey Bay, Malásia, a beber água de côco ou caipirinhas. E se me perguntam se é preciso coragem eu respondo que sim, mas também já saltei de avião duas vezes, já fiz duas ou três endoscopias sem anestesia e até já fiz snorkeling na tal da Monkey Bay, que felizmente só durou trinta segundos até decidir que estava muito melhor na toalha a ler.
Não é bom mas vale a pena! E, tanto quanto sei, não sou nada persuasiva.. já falei da dádiva de aférese milhentas vezes com diversas pessoas e nunca consegui convencer ninguém a ir comigo.
É mais fácil fazer partilhas no facebook de crianças carecas e pedir aos outros para se inscreverem como dadores de medula, ou a fazerem likes. Ou a escrever um Amén.
domingo, 20 de novembro de 2016
Fado
Faz quase cinco anos que, numa noite de copos, aprendi umas notas do Fado. No dia seguinte, após um almoço comunitário, entrei no salão com os tocadores, de concertina em riste e, como prevíramos, o meu avô saltou logo do lugar. Há muito que não o ouvia cantar, e essa foi a última vez que ouvi.
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
Apareceste-me num sonho.
Vi-te a semana passada. Senhor de ti nesse pedestal ridículo em que passaste a viver. Mas nos sonhos não te via há muito. Vieste só lembrar-me tudo o que não quero nos meus dias. Obrigada.
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
Hoje dormi com o Tejo
Deitei-me na cama de penas com um fado a romper a janela. Acordei no coração da cidade, beijei o rio e inspirei o despertar do inverno.
Hoje dormi com o Tejo.
Hoje dormi com o Tejo.
sexta-feira, 20 de maio de 2016
quarta-feira, 18 de maio de 2016
segunda-feira, 16 de maio de 2016
O meu prédio
já não é meu.
Do que era, já só duas das oito casas se mantêm.
Tenho saudades do meu prédio e das minhas pessoas velhinhas.
Do que era, já só duas das oito casas se mantêm.
Tenho saudades do meu prédio e das minhas pessoas velhinhas.
sábado, 14 de maio de 2016
Assim se passou um ano. E mais dez dias.
Nunca em toda a minha agitada vida tive tantos projectos, tantos pendentes e tanto cansaço. Apesar de mesmo aos sábados sem despertador, como hoje, acordar às sete da manhã.
Estou mais velha e mais resingona. Mas estou feliz :)
Ideias oferecem-se!
Estou mais velha e mais resingona. Mas estou feliz :)
Ideias oferecem-se!
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