segunda-feira, 8 de junho de 2009

a vida aqui tão perto

o facto de estar a trabalhar no programa escolhas e de este ser, ainda por cima, na damaia, tem-me possibilitado conhecer realidades com que nunca tinha tido contacto.
hoje de manhã conheci uma mãe de três crianças, cujo marido foi para angola devido às dificuldades que têm estado a passar. esta mãe não é portuguesa e tem o passaporte caducado e, por entraves burocráticos, as crianças, apesar de terem pai português, ainda não têm qualquer documento de identificação. e sim, é possível, pelo menos na damaia, termos ainda crianças sem documentos no final do ano lectivo, porque há muita gente que fecha os olhos à burocracia quando se trata da integração efectiva de uma criança com 10 anos.
para mim tem sido difícil ir para casa descansada ao fim-de-semana e tirar do pensamento a carolina (aquela que não gosta nada de religião e não se chama carolina) porque ninguém em casa dá banho ou comida à carolina. ou o joão (que também não se chama joão) que, depois de perder a mãe, passou a adorar andar de casaco para poder esconder as marcas que o herói da sua vida - o pai - lhe deixa semanalmente.
e se para mim tem sido difícil.. o que será para esta mãe, de quem nem o nome sei? a mãe sem nome e sem cabelo que tem por objectivo de vida alcançar 3 papéis (um para cada filho) para que, para além de estarem legais na escola possam todos ir aos campeonatos nacionais das modalidades que praticam no sporting que é o sonho da vida deles. será isto importante para estas crianças que só falam com o pai pelo telefone e que têm ao lado uma mãe moribunda? pois que do cancro da mãe só soube eu mais tarde por uma colega, porque no meio de tanta hora perdida em burocracias inalcançálveis ela também faz quimio ao hóspede que carrega na cabeça.
agora estou no cnai (centro nacional de apoio ao imigrante), num forum do escolhas com uma brasileira e uma angolana da nossa escola.
este edifício que não conhecia, situado no intendente, engloba o sef, a segurança social, apoio à saúde, apoio à educação, apoio à legalização e mais umas quantas coisas em 2 andares. engloba também caras cansadas e carregadas de desesperança.
engraçado que fui imigrante e o bi luso levou-me a todo o lado.

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