quinta-feira, 25 de julho de 2013

Os portuguesinhos

O colonialismo será sempre um tema delicado, o que é perfeitamente normal.
Ainda assim, da experiência que tenho, tanto de Maputo como do Chibuto, a maioria das pessoas lembra-se bem das coisas boas que tinha quando este território era português e hoje já não tem. A conversa é parecida à do meu avô quando falava do tempo em que ainda não havia liberdade de expressão em Portugal, mas havia tantas outras coisas melhores que as de hoje.
E este assunto é transversal a gerações. Estou a trabalhar com um grupo de jovens que rondam os vinte anos e todos têm pena que a descolonização tenha sido feita como foi. Culpa deles e culpa nossa, ou dos governantes de ambos. Mas então numa camada de gente mais idosa, esta opinião é mesmo afincada, antes é que era bom!
Tivemos uma vez um exemplo, a que só presenciei uns minutos e a alguns metros de distância, de um jovem moçambicano de pele bastante clara que odiava portugueses e a sua mania de que isto ainda é deles. Realmente pode ter razão em relação a algum exemplares caídos sabe Deus de onde, mas não é a maioria, e muito menos eram os exemplos com quem ele directamente discutia. Perdeu o resto da credibilidade quando contou que o seu curso superior tinha sido tirado em Lisboa, e que todos os anos faz lá férias e compra umas roupitas (caras e feias, pelo que pude constatar). Está visto que Moçambique não chega para o seu status. Shame on Mozambique.

Mas o que quero contar é que há umas semanas um senhor português de meia idade resolveu abrir um take-away móvel num cruzamento da Matola, perto da palhota de três miúdos orfãos que sobrevivem a pedir comida nos semáforos. Não conheço os miúdos, felizmente, mas conheço quem conheça e goste deles.
Ao que parece o senhor português não gosta deles porque dão mau ambiente à casa. Um atrelado estacionado no pó da Matola. Para quem conhece Moçambique é escusado dizer que também há lixo no chão, na verdade em Moçambique há de tudo no chão. E não gosta deles a ponto de constantemente os ameaçar para sair dali (da terra deles!) e irem chatear gente de outra freguesia. Mas os putos lá foram ficando (na terra deles!) e o senhor, coitado, irritado, há dois dias pegou-lhes fogo à palhota. Enquanto as crianças choravam porque tinham comprado dois litros de óleo que estavam ainda encetados e também ficaram sem os cobertores e as camisolas, foram juntar mais uns paus e caniço para arranjar uma cobertura para poderem dormir nessa noite. Mas voltou o velho e pegou fogo a tudo outra vez.
E agora queríamos juntar umas roupas e alguma comida para dar aos miúdos mas nunca mais foram vistos ali. Espero que andem a pedir noutros semáforos para conseguir dinheiro para comprar gasóleo e fósforos. Diz que a casa do lobo mau também arde.. e se eu souber onde é que eles estão a pedir ainda lá vou levar uma garrafinha para ajudar à festa.
Infelizmente tiram-se conclusões de histórias destas pela cor da pele e não pela podridão que as pessoas têm por dentro, mas fazer o quê?

quarta-feira, 24 de julho de 2013

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Há muitos anos, estava eu a caminho de Carvalho para a passagem de ano, liga-me a minha mãe a dizer que o filho de uma amiga dela que eu conheço bem tinha sido preso a aterrar no aeroporto da Madeira. Tinha um quilograma de cocaína na mala para consumo próprio e dos amigos chegados. Disse ele. Ele e os amigos que foram à esquadra dar esta versão dos acontecimentos para atenuar a pena. Às vezes fazemos coisas com as quais não concordamos para safar os nossos amigos.
E a minha mãe soube desta história em primeira mão porque queriam chegar ao meu tio para interceder no processo e tentar ver o que se podia fazer para atenuar a pena.
No almoço de família seguinte o meu tio disse-me que se algum dia fosse parar a uma esquadra por posse de droga ou condução sob o efeito do álcool, deveria pensar duas vezes antes de lhe ligar. A posição dele pareceu-me demasiado dura e não a percebi muito bem.
Esta história passou por uma pena de prisão pesada com um comportamento exemplar e hoje com um casamento, que presumo feliz, e uma criança. Acabou bem.

Hoje de manhã ligaram-me a mim. Um amigo que conheço desde o liceu teve um acidente grave de carro e está no hospital a lutar pela vida. Vai ser operado daqui a pouco. O carro que conduzia não tinha seguro e ele não tinha cinto de segurança, mas estupefacientes tinha. E ligaram para mim porque queriam chegar ao meu tio para interceder no processo e tentar ver o que se pode fazer, porque caso ele sobreviva, vai levar com um processo crime e era bom atenuar as consequências. Mas eu não sei se era bom. E adivinho a opinião do meu tio se eventualmente lhe ligasse a contar esta história por isso é coisa que nem sequer vou fazer.
Tenho pena que esta sorte tenha acontecido. E chamo-lhe sorte porque de há quinze anos para cá podia ter acontecido em qualquer mês vivido no limiar por esta pessoa de quem até gosto bastante, sempre gostei. Foi realmente uma sorte só ter acontecido agora. O azar foi quinze anos não terem sido anos suficientes para que os desejos constantes de ultrapassar limites tenham sido superados por um desejo de uma vida diferente, mais que não fosse pelo respeito da segurança dos outros. Porque se ele não estivesse no carro sozinho, e estivesse antes com a irmã de quem me ligou, que possivelmente estaria também em muito mau estado a esta hora, com certeza as atenuações de um processo crime não seria desejadas, pelo contrário.
Espero que nunca me toque na pele uma história destas., já chegam as que a vida nos traz, não precisamos passar a vida a chamar por elas.
Não sei por onde mais vai passar esta história e apesar de todo o cenário negativo espero que tenha um final feliz. Justo mas feliz. Boa sorte V.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Ter o melhor pediatra do mundo é

depois dos trinta anos ainda receber mails a perguntar se está tudo bem e se preciso de alguma coisa.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Colbert e Manzarino




Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault:




Colbert: - Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço…


Mazarino: - Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão. Mas o Estado é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!


Colbert: - Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis?
Mazarino: - Criando outros.


Colbert: - Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.


Mazarino: - Sim, é impossível.


Colbert: - E sobre os ricos?


Mazarino: - Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.


Colbert: - Então, como faremos?


Mazarino: - Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!