sábado, 30 de abril de 2011

Escangalhado



É como está o nosso planeta. Todo escangalhado. A foto não é minha, é da Liliana.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Mundo

É a ligação, disseram-me. É a ligação que me mantém viva. Às madeiras, aos outros, às escadas, aos cheiros, às cores, aos infinitos. É o inspirar. O meu inspirar. É um olhar pesado. Apertado. Porque nem sempre se funciona a beijos ou a abraços. E eu não sei ser de outra maneira. Dessa maneira. Escorrem-se-me os anos nos poros porque tudo é para aprender. Escorrem-se-me as lágrimas carregadas que teimam em não levar a areia. Mas vão ter que a levar. Grão por grão. E essa vetustez a que não dou tréguas vai esvair-se a sangue frio. Mas vai. Porque dói demais. E eu não vou estar mais aqui. À espera de mim própria.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Surpresa


Descobri há uns escassos meses que os telemóveis se auto-desligam após cento e oitenta minutos de chamada (se disser três horas o impacto parece ainda maior). Descobri-o por uma óptima razão. Obrigada.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Benfica


Não sei dizer quantas saudades tenho deste tempo. Não consigo. Quem praticou desporto, quem passou fins-de-semana fora com os colegas, quem fez e desfez quinhentos penteados, quem caiu e se levantou, quem vestiu fatos de princesa, quem sentiu o peso de uns patins, quem falou com o Carlos Lisboa e com o Jean-Jacques, quem conheceu a Cristina Gerardo e a Judite Gomes, quem saiu da escola a correr para ir treinar, quem fez coreografias sem fim, quem cantou em cima da cama em frente ao espelho, quem fez playback, quem se esqueceu dos patins em casa, quem bateu o pé e gritou Benfica, quem engoliu lanches em dois minutos para não perder pitada,  quem fez um toe-loop, um axel, um duplo-axel, um salshow, um salto de valsa, um flip, um lutz, um ritberg e deu um trambulhão, quem sabe o que são livres e obrigatórias, pião em baixo, águia,  avião, programa curto e programa longo. Não sei contabilizar as saudades. Não consigo.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Das fazendas

Há coisas que não se dizem. E que nem sequer se querem ouvir.
Não me venham com a lenga-lenga de que uma pessoa tem que estar preparada porque a vida é mesmo assim. Eu não vejo preparação possível. Não vejo uma única boa razão para que aconteça. Não vejo nem quero ver porque uma perda é sempre uma perda. E há perdas que doem demais. Mete então a perda onde tu quiseres, mas tira-a da minha beira porque eu não a quero aqui. Vou lamber as feridas quando elas surgirem e não quando todo o mundo acha que tenho que as lamber.
Por agora fico contigo no meu pensamento neste escurinho de quarto que tem a tua colherada. Como quase tudo na minha vida.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

terça-feira, 5 de abril de 2011

Domingueiro

Lá se foi o Sócrates.

O Porto está em altas, o Benfica em baixas e o Facebook em máximas.
A crise continua, (mas a A1 cheia estava no domingo cheia de matrículas novas porque acabou há pouco o incentivo ao abate) mas temos um povo inteiro a vibrar na sombra de duas horas de derby. 
Como é que se faz uma manifestação com sorrisos e um festejo da bola com pedradas?
Como é que se aceita um estágio escravizado (tendo apenas em conta que não é remunerado) e não se aceita um ser humano com um clube diferente do nosso?
Como é que se aceitam presidentes da câmara (e sim, infelizmente tenho que recorrer ao plural) acusados de crimes e não se toleram dirigentes desportivos afamados de corruptos?
Não percebo qual o momento em que se perdem a estribeiras e se passa para o outro lado. Não percebo a mentalidade de tanta gente que conheço e, o pior, é que temo nunca perceber.
Devíamos todos viver numa aldeia só com gente igual a nós para ver bem o que somos e do que somos capazes. Ou isso ou ter a noção que já vivemos (nessa aldeia cheia de gente igual a nós e do que somos capazes).

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Precisamente

Inspira mais uma vez. Fundo. Nessas pedras brancas da calçada. Anda em frente. Só o primeiro passo custa. Embala. Saltita com as molas que tens no pés. Expira. Segura-me de longe sem que sinta a tua presença. Entra na minha bolha mas sai porque é minha. Inspira agora o Tejo. E o bairro. As gotas são o o mesmo que tu. Matéria. Larga esse preconceito. E o outro vício. Já corre sozinha e sem medo de cair. Pára. Expira. Tira daí o ar pesado que teima em furar-te o peito. Soluça. Soluça tudo agora e não soluces nunca mais. Não há aí ninguém onde teimas procurar. Está do outro lado. Precisamente. Do teu. Entra na minha bolha e diz-me tudo isso nos olhos. Agora sai.