domingo, 31 de julho de 2011

Vou ficar a ver-te daqui

Encontraram caminho as lágrimas cara abaixo. Os padrões vão-se repetindo mas chega a hora de lhes meter um travão, como a nós próprios. Seguro a tua mão e o ar que quer sair até à exaustão. Recordo-me de mim própria e lembro-me dos discursos viciados que dizia mais para mim que para os ouvintes. Já me tinha esquecido deste lado de tanto me ter habituado a estar desse e não sei como puxar-te para aqui como também nunca ninguém me soube a mim. Espero que pelo menos caminhes de cabeça erguida. Vou ficar daqui a ver-te.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Rate what?



Mas que moda óptima esta de fazer videozinhos ping-pong em defesa de tudo e mais música. É que isto ainda é pior que a cor do soutien no mural do facebook em favor da luta contra o cancro da mama (não sei como é que ainda não falei aqui disto..).
Ora que, para além de não haver pachorra (mas haver tempo para editar estes mimos), reteve-se-me em primeiro plano na memória que alguém defende aqui Portugal pela sua tolerância. Mas já lá vamos, defende-se aqui Portugal por motivos diversos como a beleza, diversidade (hum?), verdadeiros tesouros, verdadeiros off-shores (hum?), os descobrimentos (boring!). Provocam ainda os senhores do vídeo (não sei bem que alvo): vamos avaliar Portugal quanto à resistência, à liberdade e à tolerância? Só faltaram mesmo imagens da nossa geração à rasca a passear em Lisboa.
Com quem nos podemos nós comparar relativamente a resistência e a liberdade?
Mas a da tolerância, a da tolerância dá cabo de mim.  Um caloroso beijo entre dois homens ao som das palmas logo após a colocação das alianças. Isto é para quem? Isto é para quê? Foi o povo que decidiu o que quer que seja relativamente ao casamento entre pessoas do mesmo sexo? Quantas casas haverá em Portugal em que, no dia deste grande passo para nós, cidadãos portugueses, o telejornal tenha sido recebido com um sorriso sincero e sem um comentário atrasado mental? Queremos mostrar este vídeo a quem? A nós mesmos para ver se damos conta do que se passa à nossa volta e não devia? Whatever..

Gosto ainda do pormenor de ser um vídeo em bom português, carago!

Let's rate ourselves. And we won't need video edition.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Na fuça deles. E na minha conta bancária.




Cara aluna,
O seu pedido já foi autorizado pela Direcção Financeira, no entanto, encontra-se em falta o seu NIB de conta bancária para procedermos ao seu reembolso.
Caso envie o seu NIB ainda hoje até às 17h30m, será possível efectuar a transacção ainda esta semana, na Quarta-feira, caso não só em data posterior a marcar.

Cumprimentos,

Secção de Tesouraria
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Grupo Lusófona
Campo Grande, 376
1749-024 Lisboa
Tel.: 217515500 (ext. 8532)
www.ulusofona.pt

domingo, 17 de julho de 2011

Adeus com um sorriso



Foi a ele que me agarrei. Assustadíssima, foi a ele que me agarrei.
Estava num ritual diário das minhas férias em Carvalho que era lavar as pernas na fonte antes de ir para casa para jantar. Não é que me incomodasse o pó das pedras da calçada das inúmeras quedas que dava por dia, incomodava-me era a minha avó a refilar que eu não parava sossegada e que quando acabasse o verão eu ia ter as pernas forradas de pensos-rápidos. A verdade é que a aldeia era minha de lés-a-lés e eu fazia o que queria, mesmo toda arranhada. Bem, voltando à fonte, em que eu me empuleirava, e que na altura jorrava uma boa quantidade de água, estava eu distraída a esfregar os tornozelos e os joelhos quando uma senhora se aproximou de mim. Não era uma senhora qualquer, era a Galinha. Nunca percebi porque raio lhe puseram tal alcunha. Então ali ficou ela, a uns escassos quarenta centímetros de mim, mouca com o barulho da água da fonte a correr.
Quando fechei a torneira da fonte e me viro de frente para a velhota toda vestida de negro, a coitada da senhora esboça um gigantesco sorriso que talvez fosse confortante se ela tivesse algum dente. Tive tanto medo, mas tanto medo, que desatei a gritar e a correr o mais que os pulmões e as pernas deixaram. Subi os degraus de casa dois a dois e agarrei-me feita koala à primeira pessoa familiar que vi. Juro que ainda me lembro de sentir o coração a tentar saltar-me pela boca. A abraçar-me e a tentar perceber o que me tinha acontecido, o Serafim, que não vejo há muito tempo, foi o meu porto seguro de tamanho cagaço. O Serafim de quem hoje me despeço com um obrigada por todos os sorrisos e por todos os mimos que tive enquanto criança.
Quanto à Galinha, que felizmente morreu uns anos depois e me deu tréguas a eventuais problemas cardíacos em adulta, o meu avô ainda hoje me goza pela minha admiração a vê-la naquele dia. 'Mas Maria, alguma vez tinhas visto uma galinha com dentes?'

terça-feira, 12 de julho de 2011

Sapinho

Porque não há, decididamente, coincidências e porque ontem foi um dia cheio, tive conhecimento de uma associação que hoje já me fascinou com um excerto que tem na página inicial do blog. Uma associação para pessoas grandes o lado de dentro. Fica aqui o excerto e a ligação.





- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho. – Estou tão triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Ainda ninguém me cativou...
(...)
- O que significa "cativar"?
(...)
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. – Significa criar laços.
- Criar laços?
(...) ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou se não uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me cativares, passaremos a precisar um do outro. Passarás a ser único no mundo para mim. (...)

(...) se tu me cativares, será como se o sol iluminasse a minha vida. (...) Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? (...) os teus cabelos são da cor do ouro. Por isso, quando me tiveres cativado, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti.
(...)
- Só se conhecem as coisas que se cativam - disse a raposa. - Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada. (...) Se queres um amigo, cativa-me!
- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência.
(...)
O principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a vestir o meu coração...(...)

Foi assim que o principezinho cativou a raposa. (...)

- Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. (...)
O principezinho foi ver outra vez as rosas.
- Vocês não são nada parecidas com a minha rosa! (...) Ainda ninguém vos cativou e vocês não cativaram ninguém. (...) Claro que, para um transeunte qualquer, a minha rosa é perfeitamente igual a vocês. Mas, sozinha, vale mais do que vocês todas juntas, porque foi ela que eu reguei. Porque ela é a minha rosa.
E então voltou para o pé da raposa e disse:
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. Vou-te contar o meu segredo. (...) O essencial é invisível para os olhos...
(...)
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante. (...)

O Principezinho - Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Dá-me música!

Que maravilha!

Descobri com uma barulheira desgraçada que em vez do croissant e do suminho, ao almoço, o IPO dá uma senha de almoço no refeitório (com prioridade na fila e tudo por causa dos fanicos) e que se estende, se for o caso, aos acompanhantes dos dadores. A barulheira vinha dos gabinetes da entrada e percebia-se alguma musicalidade, e de repente, entrou-nos a música pela sala. Uma viola e um violino, acompanhados por um carro de compras, daqueles com rodas, cheios de instrumentos dos quais desconheço o nome mas que foram distribuídos por nós e pelos médicos e técnicos presentes. Éramos mais de dez ali enfiados numa sala cheia de macas e de sanguinhos em tubos e sacos a rodar e a balançar. Que maravilha.
Não é que eu não seja super forte e me faça uma impressão danada olhar para o que quer que seja naquela saleta (o que faz com que passe os quinze minutos a olhar para o tecto, como se tivesse um colar cervical), mas hoje foi especialmente bom estar naquele sítio, naquele momento.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Segurança Social ou outra coisa qualquer

Desta vez nem o Priberam me safa..





Segurança
(segurar + -ança)
s. f.
1. Acto  ou efeito de segurar.
2. Qualidade do que é ou está seguro. ≠ INSEGURANÇA
3. Conjunto das acções  e dos recursos utilizados para proteger algo ou alguém.
4. O que serve para diminuir os riscos ou os perigos. = GARANTIA
5. Aquilo que serve de base ou que dá estabilidade ou apoio. = AMPARO, ESTEIO
6. Sentimento de força interior ou de crença em si mesmo. = CERTEZA, CONFIANÇA, FIRMEZAINSEGURANÇA
7. Afoiteza, ousadia.
8. Força ou convicção nos movimentos ou nas acções .
9. Certeza demonstrada. = EVIDÊNCIA
10. Caução.
s. 2 g.
11. Pessoa cuja actividade  profissional consiste em proteger pessoas, instalações ou bens, ou em controlar o acesso de pessoas a determinado local.
segurança social: sistema público de protecção  dos cidadãos, segundo a legislação produzidas, os direitos, os deveres e as contribuições efectuadas , nomeadamente em caso de doença, desemprego, reforma, etc.

Social
(latim socialis, -e)
adj. 2 g.
1. Que diz respeito à sociedade.
2. Que tem tendência para viver em sociedade. = SOCIÁVELINSOCIAL
3. Que diz respeito a uma sociedade comercial.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Valbom

Era uma festa ter que ir buscar frangos à Cotovia de bicicleta. Nem sempre tínhamos permissão para sair do parque de bicicleta, ou melhor, só tínhamos permissão para sair no caso de ser para ir buscar o jantar. Os pais portugueses têm destas incongruências!
O primeiro troço era chato, ligeiramente a subir e com brita que saltava e volta e meia nos batia nas pernas com uma força considerável. O segundo estava acabadinho de alcatroar e ainda cheirava a novo, um verdadeiro mimo.
Lá metemos os pés nas nossas adoradas amigas de verão e seguimos rumo à churrasqueira com o vento fresco do fim da tarde a acalmar-nos a pele dos três meses de sol, sal e cloro da bela vida que a idade e bom comportamento nos permitiam. Comprámos dois frangos e batatas fritas que o Joca, alcunha que foi perdendo com o tempo para um estrangeirismo (mas para mim será sempre o Joca), colocou num saco plástico e pendurou no extremo direito do seu guiador. E já me estou a rir com a porcaria da história. Nunca consegui contar isto sem ter que parar para me rir.
Tudo a postos para o regresso, ligeiramente a descer. A técnica era aproveitar o alcatrão novo para acelerar o mais que pudéssemos para depois descansar até à meta enquanto a brita nos embalava e fazia rir com um som tremido que conseguíamos emitir devido à nossa própria trepidação. Não consigo descrever melhor este som sem ser ao vivo.
Meio caminho volvido, na gáspea máxima que as nossas pequenas pernas conseguiam imprimir às bicicletas e já muito perto do alcatrão, o Joca ganha uns escassos metros de avanço e, ao transitar do alcatrão para a brita nota que se formou um desnível, talvez causado pela passagem constante dos carros, que quase o faz perder o controlo do seu velocípede. Poucos milésimos de segundo depois, sem tempo de qualquer travagem apercebo-me do socalco, enteso os braços e cerro os dentes com a toda a minha força preparando-me para o monumental tralho que se avizinhava.
A minha bina assim que sentiu o desnível resolveu levantar voo e aterrou precisamente quando o extremo esquerdo do guiador se foi enfiar na alça do saco dos defuntos galináceos que repousavam no extremo direito do guiador do Joca. Em pouco tempo ocupámos ambas as faixas de rodagem. Eu, o Joca, as bicicletas, o saco, os frangos e as batatas, que notavelmente se mantiveram no pacote.
Escusado será dizer que se o sucedido fosse descoberto pelas entidades paternas nunca mais iríamos buscar jantar a lado nenhum sem ser a pé portanto, depois de conseguirmos parar de rir, levantámos os frangos, levantámo-nos a nós, enfiamos tudo no que restava do saco e lá fomos devagarinho até ao parque de campismo. Entrámos como se o branco do pó da brita e o vermelho do sangue escarrapachado nos joelhos e nos cotovelos fossem parte de nós e seguimos direitinhos aos balneários mais longe de minha casa (porque era na minha casa que estavam as entidades paternas à espera do pitéu) lavar toda aquela poeira dos joelhos, dos cotovelos e dos frangos, para que ninguém desse por nada. E não deu.
Até hoje (e com isto talvez não passe de hoje) nenhum deles deu conta de nada. E ao pé do que me ardiam os joelhos sem poder exprimir um 'aizinho', o sabor do frango rastejante estava uma delícia. Nunca me hei-de esquecer destes frangos que me causaram o mais extraordinário tralho da minha vida.