sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Ritmo de oito tempos. Pam.

Acho que o mais difícil é acertar ritmos. Os meus ritmos são muito meus e eles próprios se transformam ao seu próprio ritmo. O ritmo de acordar, o ritmo de vestir (e de despir), o não ritmo de parar tudo e contemplar, o ritmo de escrever no blog, o ritmo de jantar sopa, o ritmo de ler antes de dormir, o ritmo de chegar ao cinema cedo, o ritmo de dançar no super mercado porque ir às compras é uma seca, o ritmo de fazer malas, o ritmo alucinante dos e-mails, o ritmo do meu blackberry, o ritmo de chamar para a mesa, o ritmo de deitar no chão, o ritmo todo do meu quarto. As ordens das cores e do alfabeto. Ufa, acho que o mais difícil é acertar ritmos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Rascunho

Há dias assim intensos em que acabamos em cima do sofá descalços a desfrutar do silêncio. Dói-me o corpo mas dói-me mais o cérebro, que hoje se fartou de ginasticar. Começo a aprender a transformar a raiva das atitudes alheias em ginástica para o cérebro. Tenho no prato um petisquinho cerebral e só tenho que decidir por onde começar a seccionar. O caminho mais simples é começar por me pôr no lugar do outro, que é sempre um sapato de difícil adaptação, mas isto com jeitinho vai. E tenho logo um palpite, foi mesmo falta de deslocação para a pele do próximo o início do problema. Descobri que é o cerne de muita complicação.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Gente com mais qualquer coisa

Tinha a família a chegar para o almoço do meu próprio aniversário e a noite anterior no Bairro Alto não tinha sido fácil. Depois do banho, enchi a cara de base e de boa disposição e lá fui eu para a entrevista. Não sabia o que dizer, nem sempre é fácil verbalizar o que nos move mas eu sabia que só podia vir algo de bom dali e queria mesmo ficar. Felizmente, volvidos quase trinta anos, ainda me tremem as pernas e ainda me assaltam loucuras. Não tinha dito nada a ninguém e escolhi precisamente o almoço de aniversário com a família e o jantar com os amigos para comunicar a minha próxima aventura. Entre gargalhadas e caras de pânico, houve de tudo, mas nenhuma das reacções me fez sequer hesitar.
Agora que passaram dois meses, que fui conhecendo algumas das caras, que fui travando inícios do que desconfio que venham a ser amizades e que, principalmente, me senti crescer mais na direcção onde pretendo um dia chegar, tenho a certeza que foi uma óptima opção. Teria valido a pena mesmo que tivesse terminado na noite de encerramento (que acabou, como todos viram, de uma óptima maneira). Valeu mais ainda a pena porque tenho a certeza que não terminou nesse dia.
Obrigada a todos os que contribuíram para que os meus dois últimos meses tenham sido tão gratificantes. Fico ansiosamente à espera dos próximos.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Da minha janela

Amo o chão deste quarto como todos os seus outros pedaços. É o topo de um ninho onde se concentram todos os seus vapores. Aqui respiro todas as festas de aniversário em que corri pela casa com copos cheios de chantilly que a Alexandrina me deixava comer. Aqui guardo um berço oferecido por duas estrelas quando eu ainda nem as conseguia ver. Aqui guardo um baú que o Manuel fez às três pancadas com todos os postais e os bilhetes. Aqui mora a arrumação por que sou, frequentemente, gozada. Aqui moram lembranças de cada dia e de cada passo. Aqui guardo a foto mais bonita e as lágrimas mais pesadas. Aqui guardo a rede onde dormi uma só vez. Aqui guardo os vestígios de um assaltante de bases-de-duche que é metade do meu próprio corpo. Aqui prendo tudo a mim como se não houvesse nada mais lá fora. Aqui cheiro um arroz doce que não há em mais canto nenhum do mundo e ouço as marteladas mais desajeitadas que Deus ao mundo deitou. Desta janela espreito tão bem Camden como o Palácio da Pena. Vejo o Vale de Góis, a Verdizela e vejo agora tão bem um quartel cheio de botifarras. Vejo a Vidigueira e a Afurada e até vejo São Bernardino. Vejo um quarto de vida. Nos dois sentidos que me lembro agora.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Mais uma reclamação

Eu não sei se vale a pena, mas assim como assim a refilice já não me passa.. E a verdade é que acho que se cada um fizer o seu trabalho, alguma coisa havemos de conseguir.


Exma. Senhora
Recepcionamos e agradecemos o e-mail que nos dirigiu, que mereceu a melhor atenção.
Após a recepção da vossa comunicação, ouvimos o Sr. Motorista em apreço sobre a ocorrência relatada, que foi aconselhado a rever a sua postura profissional de forma a não ser alvo de apreciações negativas por parte dos clientes.
Devemos, ainda, acrescentar que estas queixas constituem para nós um motivo de preocupação, uma vez que tudo fazemos para que os nossos condutores tenham um comportamento que dignifique não só a imagem da empresa, como também, a sua própria imagem de profissional de serviço público.
O Sr. Motorista foi advertido e chamado à atenção para a necessidade de manter constantemente uma atitude profissional, respeitando todos os clientes, evitando conflitos e abstendo-se de comportamentos e comentários inadequados.
O Sr. Motorista vai também ser mais acompanhado pela hierarquia (Inspectores de Tráfego) no posto de trabalho de modo a observarmos se o serviço prestado corresponde aos níveis de Qualidade desejada pelos nossos clientes.
Relativamente ao Recibo da tarifa de bordo adquirida solicitamos que nos indique um endereço postal para onde deveremos enviá-lo.

Lamentando o sucedido, apresentamos os melhores cumprimentos.

Agostinho Antunes
Gabinete do Provedor do Cliente
cid:image001.jpg@01CC2B3F.920580F0
Alameda António Sérgio, nº 62
2795-221 Linda-a-Velha
Tel:  (+351) 21 413 8678
Fax: (+351) 21 413 8693
E-mail: provedor.cliente@carris.pt
www.carris.pt

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Tic-tac

Foge-me um suspiro que andava por aqui preso. Amanhã é sempre perto demais para um passo tão grande e eu fico a olhar para o reduzido tamanho das minhas pernas. Sei que quero mas não sei se consigo e os suspiros agora atropelam-se-me no peito. Não sei se tenho mais vidas e gosto demasiado desta para poder dizer que não. Tic-tac tic-tac.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Chegue para lá a estupidez, se não se importa.

Não me beije. Não me beije que o que me falta não são os seus beijos. Não me olhe nem sequer me toque que nada disso me alimenta. Não me empurre que o capitão deste barco sou eu. E se eu não souber rumar a bom porto com um pé no instinto e outro no lodo não há beijos nem olhares nem toques que me possam encaminhar ao meu destino. Não me consigo enfiar no carreiro onde todas essas formigas se acotovelam e se lambem, por muito que a tentação me assalte. Sinto-me, nos 'entretantos' das glórias, diferente, o pato feio que mora ao lado. Mas logo vem a bonança que me lembra todos os porquês de estar deste lado. E sorrio.