quinta-feira, 31 de março de 2011

País-à-rasca-depois-dos-dias-vinte

Três dias depois de ter a segunda circular sempre desimpedida de manhã, voltou o trânsito. Será isto porque chegaram os cíclicos ordenados?
Já não sei se é um país-à-rasca ou um país-à-rasca-depois-dos-dias-vinte. Já compraram todos o novo IPad?



quarta-feira, 30 de março de 2011

Camino

Caramba. Há filmes que mexem com a nossa cabeça.





Este mexe também com o estômago. Muito bom.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Geração à Rasca - A Nossa Culpa - Autor desconhecido




"Um dia, isto tinha de acontecer.
Existe uma geração à rasca?
Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.

Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
 Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.
Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?"

terça-feira, 22 de março de 2011

O Fado Acontece



 Fado Solidário
AIDGLOBAL Realiza 4ª Edição do Espectáculo
“O Fado Acontece”

No ano em que se aguarda pelo resultado da candidatura do Fado consagrado como Património Imaterial da Humanidade, a AIDGLOBAL promove a 4ª edição do espectáculo de solidariedade “O Fado Acontece”, no dia 5 de Abril, às 21h30, no Salão Preto e Prata, do Casino do Estoril.

Fundada há 5 anos, esta Organização cedo se afirmou pela consistência do seu projecto, sendo reconhecida por todas as entidades e parceiros como desenvolvendo um trabalho eficaz e relevante em Portugal, através da promoção do Voluntariado, Formação e projectos na área da Educação para a Cidadania Global e em Moçambique.

Do trabalho em curso em Moçambique, gostaríamos de destacar a iniciativa “Embaixadores da Leitura” (pff, ver documento em anexo).

Esta iniciativa, que visa dotar várias escolas de Moçambique de Bibliotecas e dar formação bibliotecária aos seus responsáveis, será o mote central da Gala, na qual se celebra também o 5º Aniversário da AIDGLOBAL.


Este espectáculo contará com a presença dos fadistas: Raquel Tavares, madrinha da AIDGLOBAL, Ana Sofia Varela, Celeste Rodrigues, Célia Leira, Hélder Moutinho, Mafalda Arnauth, Marco Rodrigues, Mísia, Pedro Moutinho e Ricardo Ribeiro. Teremos ainda a participação especial do Mestre António Chaínho. A apresentação estará a cargo do actor André Gago.

Não perca o melhor do Fado Solidário..


Assista na plateia, pelo valor de 15 fados, ou jante connosco, por 50 fados.


As mesas de jantar são de 10 lugares de refeição, que deverão ser reservados até dia 25 de Março. Para confirmação final da sua reserva, deverá enviar o valor de 50 fados até ao dia 28 de Março, para a conta CGD 0824 0103 90930, NIB 0035 0824 0001 0390 93088, acompanhado de mensagem de correio electrónico para geral@aidglobal.org, onde deverá constar o nome completo e o nº de lugares a que corresponde.

Contamos com a sua presença.

Local: Casino do Estoril, Salão Preto e Prata
Horário: 21:30h
Promotor: AIDGLOBAL (ONGD)
Entrada: 15 Fados
Bilhetes à venda: Fnac, Ticketline, AIDGLOBAL e no Casino do Estoril (no dia do espectáculo)
Mais informações218 946 028 |212 471 741| 960486 838

segunda-feira, 21 de março de 2011

Vieste com a Primavera



Vieste com milhentas histórias para contar, um humor e uma sede infinita de aprender e de ensinar, sempre tudo com os pés, que são a única coisa que te prende à terra. És de loiça e és de ferro quando todos achamos que te vais partir. Trazes no bolso um relógio que te acompanha os passos lentos e na mão uma mulher do tamanho do mundo. Carregas um olhar sereno e atento que me adora desde que me lembro da nossa lareira, onde assámos castanhas e maçãs, onde me contaste vezes sem conta a história do pote das libras e do cucu, onde desenhávamos avós feias, onde chorei quando não estiveste e onde ficas à espera de cada passo que damos.
Parabéns a mim por te ter na minha vida. Parabéns a mim por me teres feito uma pessoa melhor. Parabéns e obrigada. Amo as tuas rugas e o tremor das tuas mãos. Parabéns.

domingo, 20 de março de 2011

Um domingo de sol


As pernas a estalar da caminhada na praia. Uma casa na areia. Uma outra no mar porque a fasquia sempre sobe. Um porto de abrigo que se fez para sul, sem amor. Um sol individual que entra na cara inteira e explode no peito que queria fervilhar. Inspira-se no limite do pulmão que condiciona, inchado. Baila em frente ao espelho e grita as melodias de sempre. Mas aspira mais. Muito mais.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Porque ainda não tive tempo de escrevinhar a minha opinião..

Não basta sair à rua é preciso saber para onde

 
por António Rodrigues, Publicado em 14 de Março de 2011  |  Actualizado há 4 horas
O mais difícil parecia ser juntar tanta gente sem o chapéu-de-chuva dos partidos, das jotas ou dos sindicatos. Conseguido isso: soube a pouco


Desci a Avenida da Liberdade com esse ror de gente transbordando-se para os passeios por o alcatrão já não chegar para tantos, muitos na faixa etária dos directamente enrascados, outros das gerações acima ou abaixo - casais com filhos ao colo, avós, mães e filhas e netas, estudantes da faculdade, precários aos milhares, quinhentoseuristas, pares de namorados, muitos piercings e atenção à moda (uma coisa que nada tem a ver ou até tem: a Zara acaba de comprar um espaço na Quinta Avenida em Manhattan por 233 milhões de euros), t-shirts com dizeres, camisolas com folhas de papel escritas (uma trazia dignidade escrita na barriga mas o que se via era o sutiã escuro a marcar a camisola branca), professores habituados ao protesto, um ou outro rosto conhecido das andanças políticas (como o major Tomé, o histórico líder da UDP), algumas, poucas bandeiras de sindicatos, um único partido representado com cartazes (mas como era o dos amigos dos animais e da natureza ninguém levou a mal), os anarquistas e os seus cartazes à procura de serem anarcas a ficarem-se pelo óbvio (não basta escrever car***o em letras garrafais para se acabar com o sistema).

Acho que ninguém imaginaria tamanha mobilização para uma manifestação cuja génese foi uma conversa de quatro amigos sem filiações partidárias que viram nela uma boa ideia e a convocaram pelas redes sociais. É, ao mesmo tempo, um exemplo gritante do poder da internet para espalhar a palavra e um claro aviso sobre o estado de espírito de uma sociedade que sente no peito um aperto de que se quer libertar. Usando uma palavra que chegou a estar muito na moda em tempos mais existencialistas, Portugal parece sofrer de angst - uma angústia, um nó na garganta, uma impotência.

Os franceses inventaram uma expressão para estas situações que, penso, nunca definiu tão bem o estado de espírito de um povo: mal de vivre. A sua definição no The Free Dictionary (http://fr.thefreedictionary.com/mal-vivre) adapta-se que nem uma luva ao que se viu no sábado nas cidades deste país: "Conduzir a uma existência insatisfatória, que é fonte de mal-estar: O mal-vivre dos jovens que não têm trabalho".

Numa faixa lia-se, a letras verdes, "Por um Futuro Melhor", que é esse mal de vivre passado a plano de mobilização capaz de tomar para si a Liberdade (a avenida lisboeta, leia-se): pela primeira vez nas sociedades democráticas, o futuro não está garantido, e o progresso e a ascensão social não são consequência inexorável do esforço de quem estuda ou de quem trabalha. O Estado já não pode garantir nada, a não ser que tentará ir sobrevivendo à espera do milagre da multiplicação dos peixes.

Só que se parece fácil chegar ao diagnóstico, mais difícil é descobrir tratamento - já nem sequer chegar a consenso sobre qual a mezinha a aplicar, o complicado é mesmo perceber para onde se vai a partir daqui; qual o caminho para paisagens mais radiosas. Na manifestação de Lisboa, havia quem pedisse a revolução. Citava-se Victor Hugo: "Em tempo de revolução quem é neutro é impotente"; evocava-se a Revolução Francesa com o seu "Liberdade, Igualdade, Fraternidade", mas foi no Rossio que me confrontei com a imagem da contradição entre os números da manifestação e o seu poder para ser o motor de alguma mudança: "Aqui também há Kadhafi e camelos, só falta a revolução". Era um pequeno cartaz empunhado por um senhor de 50 e muitos, 60 e poucos, camisa cor-de-rosa, sapatos castanhos brilhantes que conversava descontraidamente enquanto mantinha hirto o apelo revolucionário.

E foi aí no Rossio, depois de ter visto gente a registar fotograficamente as várias atracções da marcha como se fosse turista perto de monumento ("ó Zé, aguenta aí que vou aqui tirar uma fotografia"), depois de observar muitos que olhavam para a manifestação como se tivessem arranjado uma alternativa mais interessante à enésima visita ao centro comercial Colombo ou ao passeio dos tristes pela marginal ou pelos caminhos de Sintra; e foi aí, dizia, quando os jovens por trás da convocatória tentaram dizer qualquer coisa e se viram traídos pela falta de som, e a coisa ter sido relativamente salva pelo carro dos Homens da Luta que deram a volta ao Rossio com alguns slogans para a malta responder e sair desse torpor que perpassava por quase todos os rostos ("e agora?") que a mim se me deu para escrever no meu bloco de apontamentos: afinal nada vai sair daqui, é apenas uma oportunidade perdida.

E quase consegui perceber o cartaz mais desconcertante de toda a manifestação de Lisboa, aquele que, por baixo do título "VERGONHA NACIONAL", escrevia pormenorizadamente que "o Sr. Eng. da EDP Fulano de Tal [a identificação estava completa, aqui é que permanecerá omissa] inquilino do r/c com 150 m2 + quintal paga 11,62€ renda/mês x 12: 139,44€ proprietário paga IMI + IRS = 258,59€/ano ESTA É A INJUSTIÇA E A POUCA VERGONHA QUE TEMOS".

A soma das partes nem sempre é igual a um todo. E isso parece ter ficado explícito na manifestação de Lisboa. E ao princípio da noite, viajando de metro com alguns dos jovens que por lá andaram a gritar contra a precariedade, não foram frases políticas, conversas de esperança ou palavras de ordem o que ouvia, apenas a repetição entre risadas do "e o povo, pá" dos Homens da Luta que, por melhores que sejam no seu profissionalismo, não deixam de ser actores que inventaram um número de humor. São personagens, não existem realmente: tal como a revolução que tantos apregoaram Avenida da Liberdade abaixo.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Gosto mesmo do que este gajo diz (tirando quando fala do Benfica)


Saiu ontem na Visão

Este país não é para corruptos

Em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer

3:41 Quinta feira, 29 de Abr de 2010

Portugal é um país em salmoura. Ora aqui está um lindo decassílabo que só por distracção dos nossos poetas não integra um soneto que cante o nosso país como ele merece. "Vós sois o sal da terra", disse Jesus dos pregadores. Na altura de Cristo não era ainda conhecido o efeito do sal na hipertensão, e portanto foi com o sal que o Messias comparou os pregadores quando quis dizer que eles impediam a corrupção. Se há 2 mil anos os médicos soubessem o que sabem hoje, talvez Jesus tivesse dito que os pregadores eram a arca frigorífica da terra, ou a pasteurização da terra. Mas, por muito que hoje lamentemos que a palavra "pasteurização" não conste do Novo Testamento, a referência ao sal como obstáculo à corrupção é, para os portugueses do ano 2010, muito mais feliz. E isto porque, como já deixei dito atrás com alguma elevação estilística, Portugal é um país em salmoura: aqui não entra a corrupção - e a verdade é que andamos todos hipertensos.
Que Portugal é um país livre de corrupção sabe toda a gente que tenha lido a notícia da absolvição de Domingos Névoa. O tribunal deu como provado que o arguido tinha oferecido 200 mil euros para que um titular de cargo político lhe fizesse um favor, mas absolveu-o por considerar que o político não tinha os poderes necessários para responder ao pedido. Ou seja, foi oferecido um suborno, mas a um destinatário inadequado. E, para o tribunal, quem tenta corromper a pessoa errada não é corrupto - é só parvo. A sentença, infelizmente, não esclarece se o raciocínio é válido para outros crimes: se, por exemplo, quem tenta assassinar a pessoa errada não é assassino, mas apenas incompetente; ou se quem tenta assaltar o banco errado não é ladrão, mas sim distraído. Neste último caso a prática de irregularidades é extraordinariamente difícil, uma vez que mesmo quem assalta o banco certo só é ladrão se não for administrador.
O hipotético suborno de Domingos Névoa estava ferido de irregularidade, e por isso não podia aspirar a receber o nobre título de suborno. O que se passou foi, no fundo, uma ilegalidade ilegal. O que, surpreendentemente, é legal. Significa isto que, em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer. É preciso saber fazer as coisas bem feitas e seguir a tramitação apropriada. Não é acto que se pratique à balda, caso contrário o tribunal rejeita as pretensões do candidato. "Tenha paciência", dizem os juízes. "Tente outra vez. Isto não é corrupção que se apresente."