terça-feira, 3 de maio de 2011

País sem Rumo


É de 1978 este livro que me anda a tirar o sono. A minha falta de conhecimento política (tanto a actual como a menos actual) fizeram-me rebuscar uns livros na biblioteca lá de casa para ver se começava por perceber como é chegámos aqui e, talvez um dia, descortinar que raio fizemos nós ao nosso rectângulo.
O que me tem tirado o sono não tem sido a sua leitura, mas antes o temor de, após o ler, perceber que podia ter sido escrito ontem, ou anteontem. Vou transcrever um pouco  do Intróito, que é o culpado desta minha inquietação.

'Não é fácil escrever um livro sobre a génese e as consequências do 25 de Abril (...).
É um período crucial e decisivo da História de Portugal (...). Um período em que se gerou um país diferente.
O Portugal da Europa está em crise. A sua existência está em perigo. Neste processo houve de tudo. Uma revolução sem flores, sem sangue, animada de profundo idealismo e de esperança (...). Assistimos ao derrube de uma ditadura e sentimos o respirar ansioso da Liberdade. Mas, vimos também o espectro da ditadura mais ignominiosa e impiedosa que nem a História da Pátria respeitava.
Condenou-se uma polícia política de cujos crimes os responsáveis devem ser inexoravelmente julgados, mas permitiu-se a perseguição arbitrária por autênticos bandos de malfeitores, tantas vezes fardados, à mistura com estrangeiros da escória internacional.
Defendeu-se o combate à corrupção, mas gerou-se uma classe de corruptos a esbanjar os bens do Estado. Defendeu-se uma sociedade utópica sem classes, mas criaram-se novas classes exploradoras do Povo, com regalias e benefícios ímpares (...) A anarquização da educação, em fase incipiente de democratização, é uma realidade. O sistema de saúde aperfeiçoou-se, mas para a exploração do homem. Aqui, como nos outros sectores da vida nacional, o socialismo morreu na incapacidade.
A Revolução de Abril era necessária em 74. A Revolução de Abril continua a ser necessária hoje.
(...)
Como foi possível associar associar ideais de Liberdade e Democracia à traição? (...)
É que a ditadura de um Salazar com dimensão de estadista, mas sem visão de progresso, e a administração sem grandeza de Marcelo foram substituídas pela gestão de revoadas de medíocres sem competência. Se contribuí para substituir os primeiros, nunca pensei que o País fosse dominado pelos últimos.
(...)
Fiel aos ideais democráticos que proclamei na madrugada de 26 de Abril de 1974, as análises aqui contidas são determinadas pela crítica aos que se desviaram da rota desses ideais e têm, fundamentalmente, em vista o saneamento moral da geração a que compete reconstruir o presente e projectar o futuro. (...)
Nesta linha de pensamento, entrego à reflexão dos portugueses o presente livro, escrito sem qualquer outro intuito que não o de contribuir para que o meu País continue a ser PORTUGAL.'
1978, António de Spínola

3 comentários:

Lek disse...

É por estas e por outras que há muito quem diga: «Volta Salazar, estás perdoado»

noka disse...

É preciso que os portugueses saibam reflectir, ter Atitude, Responsabilização e Agir com consciência!

Maria disse...

Ouvi há pouco que os ordenados dos sindicatos são suportados pelo Estado. Será possível?