Um grupo de sociólogos das universidades de Nevada em
Las Vegas e da Califórnia em Los Angeles realizou o maior estudo internacional
sobre a influência dos livros na educação escolar. Os resultados mostram que,
independentemente do nível educacional dos pais, do status socioeconômico e do
regime político, quanto mais livros houver em uma casa, mais anos de
escolaridade atingirá a criança que crescer nela. Participaram do estudo mais
de 70 mil pessoas de 27 países, entre os quais Estados Unidos, China, Rússia,
França, Portugal, Chile, África do Sul (o Brasil não foi incluído). A conclusão
foi publicada na revista Research in Social Stratification and Mobility.
No artigo, os autores explicam que o nível cultural e
educacional dos pais também influencia a escolaridade atingida pela prole, mas
nesse caso a correlação é mais fraca do que com o tamanho físico do acervo
familiar de livros. Os resultados mostram também como o gosto pela leitura
tende a diminuir diferenças sociais. Nos lares mais modestos, o efeito de cada
acréscimo ao acervo no futuro acadêmico da criança é mais acentuado do que a
adição de um volume a uma biblioteca mais ampla. Apesar de a tendência ter sido
observada em todos os países, houve diferenças importantes entre eles.
Nos Estados Unidos, na França e na Alemanha, uma
biblioteca com cerca de 500 volumes representou acréscimo de dois a três anos
na escolaridade das crianças, comparando com uma casa sem livros. Na Espanha e
na Noruega, o número saltou para até cinco anos e na China atingiu o máximo,
entre seis e sete anos.
Segundo os pesquisadores, o regime comunista poderia
explicar o resultado chinês, pois em um país onde há mais restrições à
liberdade individual os livros seriam bens culturais ainda mais valorizados
pela família. O mesmo raciocínio poderia se aplicar aos números semelhantes
verificados em países do Leste Europeu (que formavam o bloco comunista) e a
África do Sul, que viveu décadas sob o apartheid. Os casos analisados foram de
pessoas que cresceram em meio a esses regimes. “A leitura é uma ótima fonte
para os oprimidos, seja qual for sua cor, seus opressores e as circunstâncias
históricas”, escreveram.
O estudo é uma prova irrefutável de que
“uma casa onde os livros são valorizados fornece à criança ferramentas que são
diretamente úteis no aprendizado escolar, como vocabulário, imaginação, amplo
horizonte em história e geografia, a compreensão da importância da evidência no
argumento, e muitas outras”. E confirma os famosos versos de Castro Alves, do
século 19: “Oh! Bendito o que semeia/ Livros... livros a mão-cheia.../ E manda
o povo pensar!/ O livro caindo n’alma/ É germe – que faz a palma./ É chuva -
que faz o mar.”
Luciana Christante
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