quarta-feira, 24 de julho de 2013

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Há muitos anos, estava eu a caminho de Carvalho para a passagem de ano, liga-me a minha mãe a dizer que o filho de uma amiga dela que eu conheço bem tinha sido preso a aterrar no aeroporto da Madeira. Tinha um quilograma de cocaína na mala para consumo próprio e dos amigos chegados. Disse ele. Ele e os amigos que foram à esquadra dar esta versão dos acontecimentos para atenuar a pena. Às vezes fazemos coisas com as quais não concordamos para safar os nossos amigos.
E a minha mãe soube desta história em primeira mão porque queriam chegar ao meu tio para interceder no processo e tentar ver o que se podia fazer para atenuar a pena.
No almoço de família seguinte o meu tio disse-me que se algum dia fosse parar a uma esquadra por posse de droga ou condução sob o efeito do álcool, deveria pensar duas vezes antes de lhe ligar. A posição dele pareceu-me demasiado dura e não a percebi muito bem.
Esta história passou por uma pena de prisão pesada com um comportamento exemplar e hoje com um casamento, que presumo feliz, e uma criança. Acabou bem.

Hoje de manhã ligaram-me a mim. Um amigo que conheço desde o liceu teve um acidente grave de carro e está no hospital a lutar pela vida. Vai ser operado daqui a pouco. O carro que conduzia não tinha seguro e ele não tinha cinto de segurança, mas estupefacientes tinha. E ligaram para mim porque queriam chegar ao meu tio para interceder no processo e tentar ver o que se pode fazer, porque caso ele sobreviva, vai levar com um processo crime e era bom atenuar as consequências. Mas eu não sei se era bom. E adivinho a opinião do meu tio se eventualmente lhe ligasse a contar esta história por isso é coisa que nem sequer vou fazer.
Tenho pena que esta sorte tenha acontecido. E chamo-lhe sorte porque de há quinze anos para cá podia ter acontecido em qualquer mês vivido no limiar por esta pessoa de quem até gosto bastante, sempre gostei. Foi realmente uma sorte só ter acontecido agora. O azar foi quinze anos não terem sido anos suficientes para que os desejos constantes de ultrapassar limites tenham sido superados por um desejo de uma vida diferente, mais que não fosse pelo respeito da segurança dos outros. Porque se ele não estivesse no carro sozinho, e estivesse antes com a irmã de quem me ligou, que possivelmente estaria também em muito mau estado a esta hora, com certeza as atenuações de um processo crime não seria desejadas, pelo contrário.
Espero que nunca me toque na pele uma história destas., já chegam as que a vida nos traz, não precisamos passar a vida a chamar por elas.
Não sei por onde mais vai passar esta história e apesar de todo o cenário negativo espero que tenha um final feliz. Justo mas feliz. Boa sorte V.

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