quarta-feira, 26 de março de 2014

Vamos fazer bebés por 0,38€

Este é o título de um texto publicado hoje no Expresso.
E é realmente infindável a pedinchice. Como é que alguém faz contas a ter filhos com o dinheiro do Estado em vez de fazer contas ao seu próprio bolso? Merda dos subsídios e dos abonos e do raio que parta. Só reconhecemos deveres nos bolsos dos outros e direitos nos nossos umbigos.
E sempre para o mesmo lado! Porque é que quem goza de um subsidio de desemprego não pega nas perninhas e vai limpar mato para poupar dinheiro ao país no verão em combates a incêndios? Porque é que quem recebe todos os dias uma sopa em instituições sociais não vai para a horta da instituição de manhã regar couves e plantar batatas para sustentar os custos que têm, diariamente, com a sua barriga. É muito mais fácil (e até dá status) ir para o telejornal, que ontem dedicou a emissão exclusivamente para desgraças, chorar e mostrar casas cheias de humidade.
Espero que a Mafalda saiba também fazer contas de multiplicar por todas as crianças portuguesas, ainda que não sejam em número desejado, e ainda lhes some saúde e educação de borla. Era retirar de todo os abonos e dar incentivos sérios, como isenção fiscal a quem tenha uma boa quantidade de filhos menores e de quem arrisca na vida e gera empregos. Assim sim, falaríamos de incentivos.


Diz Mafalda Santos aqui

Muito se tem falado que o número de nascimentos em Portugal tem sofrido um decréscimo palpável e que, atualmente, apresenta o seu valor mais baixo de sempre - histórico, dizem as manchetes - em que o número de óbitos é superior ao número de nascimentos no país. No ano passado, entre Janeiro e Outubro de 2013, houve mais 18.232 mortes do que nascimentos, com um registo de apenas 82.538 crianças, o que não deixa de ser grave. Somos um país de velhos, sem renovação da população ativa que permita, de futuro, reerguer a economia, o mercado de trabalho, a segurança social, ou que, tão-somente, dê sentido à escola pública para continuar a existir, ou a tantas escolas primárias fechadas um pouco por todo o interior de Portugal.
Recentemente, o tema da não renovação da população e da baixa natalidade tem sido alvo de grande atenção por parte da classe política nacional, levando Pedro Passos Coelho, no último congresso do PSD, em Fevereiro, a anunciar que iria ser constituída uma comissão multidisciplinar, para, em três meses, se preparar um plano de ação que permita meter Portugal a procriar, já que - ao que parece - nos recusamos a fazê-lo.
Como filha única e mãe de uma única criança, convido o nosso governo a começar por olhar para algo tão simples como o abono de família que é, neste momento, facultado a quem nasce neste país. Claro que, para se ter direito ao mesmo, convém que tenhamos um esparso e mísero rendimento mensal, porque se ultrapassar o subsídio mínimo nacional, o mais provável é nos ser negado, por o valor do rendimento do agregado familiar ser considerado suficiente.
Uma visita à página da segurança social portuguesa comprova a teoria. Basta fazer as contas. O abono atual atribuído a uma criança com idade inferior a 12 meses (um ano) é de 140,76€, que, dividindo por 365 dias (os tais 12 meses), dá uma média de 0,38 cêntimos por dia. O que, convenhamos, é um valor mais do que aceitável para se criar um filho. Mas a partir do momento em que a criança passa a barreira dos 12 meses, o valor, que era de 140 euros (arredondados), desce drasticamente para os 35 euros, aí permanecendo até aos 16 anos. O que dá uma média de 0,09 cêntimos diários.
Não percebo onde é que está o problema dos portugueses em terem filhos (ou mais do que aqueles que têm), porque com incentivos destes ninguém precisa de anticoncecionais. Até o sexo sai prejudicado.

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