sexta-feira, 7 de maio de 2010

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Gritava louca do outro lado do separador central, com os braços todos vermelhos, e eu sem perceber. A ambulância que ia casualmente à minha frente travou e lá fiquei eu parada a metros da cena. Demorou-me mais de 5 segundos (ou pelo menos é a sensação que tenho) a absorver toda a informação visual e auditiva. Estavam dois carros envolvidos no acidente e estava uma mota no descanso a meio da faixa que me era mais próxima.
O que ela gritava era que lhe salvassem o filho, e uma rapariga de branco agarrava-a com força para a tentar acalmar. 'Salvem o meu filho!' Mas os carros estavam vazios e eu continuava sem perceber. 'Salvem o meu filho!' Mas qual filho? Que raio. E quando olhei para baixo, a escassos metros de mim, estava uma mota no chão e um corpo de barriga para baixo ainda com o capacete. E uma enorme poça de sangue. Paralisei e desatei num pranto. Nunca tinha visto um morto, mas pior, nunca tinha visto uma mulher perder um filho. Não sei quem era, não sei se a mãe ia na mota, nem como se deu o acidente. Sei que ainda tenho aquela imagem na cabeça e quanto mais dela falo mais racional e menos emotiva se torna. Eu sei que não é uma leitura agradável, mas a vida tem coisas muito feias que nos fazem pensar. E acho que não sou assim tão sensível.. mas foi o que me chamaram, porque assim que cheguei ao trabalho corri para a casa-de-banho para vomitar.
Não é uma leitura agradável, mas foi o que me aconteceu hoje. Está aqui.





3 comentários:

Lek disse...

Phonix! :S

Anónimo disse...

Já passei por algumas semelhantes e efectivamente, não é nada bom de se ver.
Nestes momentos, sabe bem ter alguém ao lado...







Sign: Pete

ZonGo disse...

O rapaz que evacuámos hoje (26DEZ2010), comentava com dor e muito mau cheiro à mistura, a sua sorte esta semana: Perdeu o telemóvel novo (400€) enquanto pescava, logo no início da semana. Entretanto a namorada deixou-o. Longe de casa avaria-se-lhe a scooter, diz que fez meia ilha a pé. Hoje levei-o para longe de casa, depois de uma noite passada na discoteca espeta-se de carro. Levei-o para outra ilha também ela remota, apresentando várias fracturas, algumas expostas, lábio todo aberto, bacia partida, entre outros (já sabe onde vai passar a passagem de ano). Do carro não sei, apenas posso imaginar...
Talvez por ser Natal, sobreviveu. Há pessoas com sorte... Viva o "copo meio cheio"!