quinta-feira, 22 de março de 2012

Álvaro de Campos

Lisbon Revisited
(l923)

 

(...) Não quero nada. 
Já disse que não quero nada. 
Não me venham com conclusões!  
(...) Não me tragam estéticas!  
Não me falem em moral! 
Tirem-me daqui a metafísica!  
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas  
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —  
Das ciências, das artes, da civilização moderna! 
Que mal fiz eu aos deuses todos? 
Se têm a verdade, guardem-na! 
(...) Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?  
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?  
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.  
Assim, como sou, tenham paciência!  
Vão para o diabo sem mim,  
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!  
Para que havemos de ir juntos? 
Não me peguem no braço!  
Não gosto que me peguem no braço.  Quero ser sozinho.   
Já disse que sou sozinho!  
(...)

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