Que raio é ter uma infância sem terra?
E os banhos no poço, os pic-nics com os primos, dançar o vira, enrolar rifas até nos doer os dedos, o medo da Galinha, fumar o primeiro cigarro, andar quatro quilómetros à noite para beber café no Carvoeiro e depois mais quatro para voltar, dançar o vira outra vez, cantar pela aldeia na Páscoa com a boca a transbordar de amêndoas, servir cem cafés em cinco minutos no bar depois do almoço da festa, ver os tios e os avôs a torrarem a nota no leilão e as tias e as avós a ficarem fulas, pedir um fado, ver a piscina pela primeira vez, ir à Vila ligar aos pais porque em Carvalho não havia telefones, comprar autocolantes dos Bombeiros, vender autocolantes de Carvalho, ser enfiada na piscina toda vestida, leiloar tufos do cabelo do Gustavo (rapado ao vivo!), e mais outro vira, enfiar os pés na ribeira gelada, ir sentada na bicicleta dos mais velhos que pedalavam até Pessegueiro, tomar banho na fonte da eira fundeira, passar a placa da aldeia dois metros e ficar ali o serão só para transgredir a regra que nos impedia de sair da aldeia e, no fim do verão, as pernas forradas a pensos rápidos?
Coitados.. não tiveram infância..
2 comentários:
muito bonita esta aldeia, onde fica?
Pampilhosa da Serra
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