'Parece-me que, de certa forma, quase todos nós, nas mais diferentes funções e tarefas que desempenhamos, temos a noção de uma progressiva refundação civilizacional: seja na diluição de valores dominantes, na emergência de novos valores, na obsolescência de comportamentos, na ritualização de novas práticas, ou ainda, na crise institucional generalizada e na deslocação de soberanias, no realinhamento geo-político, na emergência de novos actores políticos que se contrapõem ao Ocidente em crise.' Carlos J. Pessoa
Parece-me que gostava de ter sido eu a escrever uma coisa inteligente destas, mas infelizmente não fui. Parece-me também que, e também infelizmente, nem todos temos essa noção e não a temos porque nos deixamos ir na corrente sem pensar nos porquês das coisas que fazemos.
Para onde corremos afinal? Que se passa no nosso fim-de-semana de tão especial para ansiarmos tanto que chegue? Que fazemos de tão especial o ano inteiro para esperar ansiosamente pelas férias? Racionalmente, responderia que ao fim-de-semana e durante as férias fazemos algo realmente importante para nós que, de certeza, está relacionado com o crescimento do que somos e com a aproximação à meta a que nos propomos chegar. Mas não me parece que seja isso. Acho que deixamos somente o fim-de-semana e as férias para descansar e desanuviar da semana, que, vista assim, parece uma cruz que todos carregamos.
E para onde corremos afinal? Para que vivemos afinal? Se passamos as semanas do ano inteiro a trabalhar porque-tem-que-ser e os fins de semana e férias a descansar do ano inteiro em que andámos a trabalhar porque-tem-que-ser, que tempo nos sobra? Acho que não sobra nenhum. E tem que sobrar, senão não andamos aqui a fazer nada.
3 comentários:
a pergunta é, afinal o que é que é isto?
porque teimamos em deixar que o nosso mundo seja moldado pela ideia que nós temos da ideia que os outros têm de nós? (???)
proponho a tentar pelo menos uma vez todas as semanas, se não mesmo todos os dias, partilhar um sorriso com um estranho. parece maluco, mas maluco é aquele que acha que sorrir é uma coisa intima.
esperar pelo fim de semana não deve ser deixar passar o resto dos dias...
beijão maria, adorei o texto :)
'Teimamos em deixar que o nosso mundo seja moldado pela ideia que nós temos da ideia que os outros têm de nós?'
Pimba, é isso mesmo!
Gostava de te saber responder a este post e à mensagem. Mas acho que para começar: não há resposta..
Posso dizer-te o que acho e o que eu acredito mas isso não são respostas.
Acho que todos nós sem excepção (apesar dos nossos sonhos e desejos) acabamos por ser fruto da sociedade em que estamos inseridos. Porque não somos iguais, não temos a mesma genética, não temos as mesmas oportunidades, não temos as mesma experiências, e quando nascemos já estamos automáticamente inseridos numa sociedade que trás uma cultura, crença e os seus valores, uma sociedade com padrões.
O ser Humano é irremediavelmente um ser social, não consegue viver 'sozinho', precisa da sociedade, dos seus semelhantes, as inter-relações são necessárias, e aquilo que é padrão.. é o normal. E se é diferente poderá acabar por ter um grande problema: vive numa sociedade em que não é muito bem aceite.
Acredito que (e não digo "hoje em dia") existem falhas, porque são visiveis se andarmos com atenção. As falhas são um bocado isso que tu falas. Mas também não haverá aqui uma bola de neve? Uma incapacidade para criar mudança? Um misto de apatia com resignação.? (acho que os nossos próprios pais também devem ter tido muitas questões)
Não faço ideia porque que alguém chega ao fim-de-semana e não programa actividades para si próprio e/ou familia. Algo que pudesse dizer: eu queria fazer/experimentar isto e fi-lo (falo de interesses/objectivos). E aquilo que se vê na maioria é chegar ao fim-de-semana e não se fazer nada. Às vezes acho que as pessoas se queixam muito mas também não se mexem. Eu não quero chegar ao fim da minha linha e dizer que não fiz isto ou aquilo.."porque estava cansada", isto não é uma resposta para fim de vida. Se o fizer espero que alguém me consiga perguntar, na devida altura, "porquê que não fazes?! porque não?".
Acredito que a mudança nas nossas vidas somos nós que a fazemos. Mas sei que isso custa, às vezes dói, e que cansa.
Acredito que, em parte, a nossa vida depende de nós, a outra depende de onde estivermos inseridos.
Acredito que não existam manuais para nos ajudar porque tudo depende de muita coisa. Depende de quem somos e o que queremos, e de onde vimos. Somos pessoas diferentes (cada uma com os seus problemas) a viver em sociedade (que cada vez mais se revela multicultural). Quem por cá andava, antes de nós aqui chegarmos também não sabia como melhor educar, como melhor se dar com os filhos, do que era o mais correcto nas relações (seja de que tipo for)..
Acredito que não existem mundos perfeitos...porque se existissem não lhe davamos valor (e esta discussão não havia).
Quem ainda não chegou à idade em que percebe que a Vida passa a correr, vai lá chegar um dia.
Desde que passei esse dia, tive de perceber que percorrer a Vida implica escolhas e perdas, e que se eu quero fazer metade do que gostava vou ter de me mexer.
Há uma grande diferença em dizer: 'não fiz porque não tentei' (e depois arrepender-me) e o 'não fiz porque não tive mais tempo'.
Há muita coisa por onde se pode discutir e levantar perguntas...mas as respostas são dificeis de encontrar..e cada pessoa que por aqui passa tenta (quero eu acreditar, porque ainda sou pessoa de viver em utopias) o seu melhor. Os manuais de apoio para esta vida não existem, porque quer me parecer que todos tiveram problemas parecidos e tentar 'safar-se' o melhor que conseguiram, dentro da época em nasceram, da cultura em que nasceram, dos valores mais importantes, do que era imposto pela sociedade, etc..
(E já se faz tarde...o resto fica para outro dia.)
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